Como aumentar a presença feminina em TI?
Na última Campus Party SP, que aconteceu entre os dias 02 e 05 de fevereiro, a hashtag #MeuLugarEmTI apresentou um debate sobre a presença de mulheres no mercado de tecnologia. O fato é que, apesar do segmento estar crescendo no Brasil e no mundo, ainda vemos poucas mulheres na área.
O headhunter Paulo Exel, diretor da Yoctoo, boutique de recrutamento especializada em TI, aborda o assunto na entrevista a seguir. O profissional fala sobre a falta de estímulo que as mulheres enfrentam desde à infância em relação à tecnologia, além do preconceito vivido por muitas em ambientes predominantemente masculinos. O especialista alerta ainda para a necessidade de levar a diversidade de gênero para dentro das empresas, como forma de ampliar pontos de vista. Confira.
Por que ainda vemos tão poucas mulheres no mercado de tecnologia?
Infelizmente, a falta de mulheres em TI ainda é uma consequência residual do preconceito vivido pela mulher na sociedade. É uma questão cultural e social. Desde pequenas, as meninas são expostas a atividades tidas como sendo “para mulheres” e não são incentivadas, ou tão pouco expostas, à tecnologia. Enquanto isso, os meninos recebem maior apoio e incentivo para manterem-se por perto do ambiente tecnológico. O interesse e a influência começam muito mais cedo por parte deles. Esse é um dos motivos, o de longo prazo, e certamente o que será mais difícil de resolver. Mas temos outros problemas agregados. O isolamento social, o cenário acadêmico e de mercado predominantemente de homens é outro fator que afasta as mulheres da área de tecnologia. A mulher dentro de um ambiente dominado pela presença masculina pode se sentir excluída, sofrer bullying e ser desmotivada a prosseguir com a carreira. Para mim, isso é um verdadeiro desperdício de talentos.
Quais são as maiores barreiras e dificuldades enfrentadas pelas mulheres que decidem ingressar na área?
Acho que a principal barreira, depois do isolamento sofrido na faculdade e nos cursos técnicos, é o próprio mercado de trabalho. Poucas empresas têm políticas de diversidade em suas equipes e, com uma oferta menor de mulheres que conseguem se formar na área, poucas conseguem concorrer de igual para igual em uma vaga de emprego. A presença predominantemente masculina, principalmente em áreas técnicas, é outro fator que afasta as mulheres. Felizmente, isso já tem mudado em cargos de liderança. Algumas empresas de tecnologia, impulsionadas principalmente pelas grandes multinacionais, já possuem políticas corporativas sólidas de incentivo para atrair mais mulheres.
Em quais aspectos o mercado sai perdendo com a falta de equilíbrio nas equipes?
Em todos os setores, e em todos os níveis hierárquicos, as empresas saem perdendo por não ter diversidade dentro das equipes. Quanto mais heterogênea for a equipe, mais pontos de vista, experiências diferentes e formas de raciocínio irão contribuir para a solução de problemas e entregas específicas. Cada pessoa é única, mas de modo geral, as mulheres são mais orientadas para os detalhes, tem maior capacidade de concentração e e habilidades para gerenciar diversos assuntos ao mesmo tempo. Homens por sua vez, tendem a ser mais racionais e ter uma visão mais profunda. Ambas as características são essenciais, complementares, e a falta de diversidade tende a ser um problema.
E o mercado está se abrindo para mudar essa realidade? Quais as áreas mais receptivas para as mulheres?
Felizmente, sim! Estamos caminhando para a equidade de gênero tanto no âmbito social e, consequentemente, também dentro das empresas. Já vemos algumas iniciativas no mercado de tecnologia onde algumas empresas buscam ter uma diversidade maior na hora de escolher os candidatos. Alguns clientes, inclusive, solicitam que apresentemos um short list (documento que apresenta os candidatos potenciais para uma vaga) equilibrado e com diversidade de gêneros para participarem do processo seletivo. Ainda existem áreas técnicas onde a barreira é maior, mas esse cenário está mudando! Existe um movimento para tornar o mercado mais igual. Ainda não é intenso, mas já se pode perceber em áreas como liderança, gerenciamento de projetos e desenvolvimento. A área de programação é onde ainda vemos menos mulheres inseridas.
Como podemos trabalhar para modificar esse cenário no curto, médio e longo prazo?
No curto prazo, as empresas precisam ter políticas de diversidade de gênero mais definidas e colocar isso em prática de fato. No discurso, a maioria já tem. No médio prazo, elas precisam elaborar processos seletivos de trainee e estágio com políticas que envolvam mulheres. Recrutar para cargos de base de pirâmide e treinar o início da carreira é indispensável para mudar esse cenário no futuro. No longo prazo, não tem como fugir, precisamos mudar enquanto sociedade. É preciso incentivar as meninas desde cedo a ter contato e se interessarem por tecnologia e, educar nossas crianças e adolescentes para um mundo de equidade e respeito mútuo. O direito e a inclusão da mulher no mercado de trabalho é, antes de mais nada, uma questão social de respeito, valores e equidade.
O que você recomenda para as meninas que querem se dedicar a uma carreira em tecnologia?
Recomendo que elas sejam resilientes, que tenham persistência para buscar a carreira que sonham, sem dar muita importância para as barreiras e obstáculos que encontrarão. Para desenvolver as habilidades técnicas e comportamentais exigidas pela profissão, minha recomendação é que conversem com as pessoas da área de tecnologia, se mantenham atualizadas, façam muita pesquisa de campo e busquem respirar tecnologia. Basicamente, esse seria o conselho que eu daria para qualquer profissional, independentemente da área de atuação.